quarta-feira, 18 de maio de 2011

Rifa-se um Coração


Rifa-se um coração quase novo.

Um coração idealista.

Um coração como poucos.

Um coração à moda antiga.

Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário.



Rifa-se um coração que na realidade está um pouco usado, meio calejado, muito machucado e que teima em alimentar sonhos e cultivar ilusões.

Um pouco inconsequente que nunca desiste de acreditar nas pessoas. Um idealista, um verdadeiro sonhador.

Rifa-se um coração que nunca aprende. Que não endurece e que mantém viva a esperança de ser feliz, sendo simples e natural.

Um coração insensato que comanda o emocional sendo louco o suficiente para se apaixonar.

Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras.

Rifa-se um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros.

Esse coração que erra, briga, se expõe. Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.

Sai do sério e às vezes revê suas posições, arrependido de palavras e gestos.

Esse coração tantas vezes incompreendido, tantas vezes provocado, tantas vezes impulsivo.

Rifa-se um coração desequilibrado emocionalmente, que abre sorrisos tão largos, que quase dá para engolir as orelhas, mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto.

Um coração para ser alugado, ou mesmo utilizado por quem gosta de fortes emoções. Um coração indicado apenas para quem quer viver intensamente. Contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida matando o tempo, defendendo-se das emoções.

Rifa-se um coração tão inocente que se mostra sem armaduras, e deixa louco o seu usuário.

Um coração que quando parar de bater, ouvirá seu usuário dizer para São Pedro, na prestação de contas: "O senhor pode conferir, eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei sentimento."

Rifa-se um coração ou mesmo troca-se por outro que tenha um pouco mais de juízo. Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga. Um coração que não seja tão inconsequente.

Rifa-se um coração cego, surdo e mudo, mas que incomoda um bocado. Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda não foi adotado, provavelmente por se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais, por não querer perder o estilo.


Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree. Um simples coração humano.

Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado.

Um modelo cheio de defeitos, que mesmo estando fora do mercado, faz questão de não se modernizar, conserva sua essência, mas por vezes, constrange o corpo que o domina.

Um velho coração que convence seu usuário a publicar seus segredos, e a ter a petulância de se aventurar como se fosse um poeta.

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